Por Thiago Cipriano em 22/03/2019
Exatos 34 meses se passaram desde a notificação para assumir a presidência, no Palácio do Jaburu, na manhã do dia 12 de maio de 2016. Mais 96 semanas seguiram desde a delação que abalou a República e colocou o país em suspense, no começo da noite do dia 17 de maio de 2017. Quase 80 dias se passaram desde o término do mandato, com a transmissão de cargo no Palácio do Planalto, na tarde do dia 1º de janeiro de 2019. Michel Temer, 78 anos, foi novamente personagem de uma página degradante e deprimente da vida política do Brasil no final da manhã do dia 21 de março de 2019. O vice, que assumiu a presidência após o impeachment de Dilma Rousseff, torna-se o segundo ex-presidente da República preso em menos de 12 meses.
O quinto
Outro alvo da operação está um importante integrante da alta cúpula do governo Temer: o ex-ministro Moreira Franco, que ocupou a cadeira de Minas e Energia. Não bastasse figurar na extensa lista de ex-ministros presos – que tem, por exemplo, José Dirceu, Antônio Palocci, Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves – Moreira Franco se junta a mais uma: a de ex-governadores do Rio de Janeiro que já foram para a cadeia. Ele foi chefe do executivo de 1987 a 1991. Sem perder a conta: Luiz Fernando Pezão (2014-2018), Sérgio Cabral (2007-2014), Rosinha Garotinho (2003-2006) e Anthony Garotinho (1999-2002).
Cobertura nas rádios
A prisão de Temer e seus desdobramentos foram os principais destaques do noticiário nesta quinta-feira (21). Das páginas políticas para as páginas policiais, a notícia chegou nas principais rádios de São Paulo.
Rádio Globo – Com uma nota curta, a repórter Juliana Causin interrompeu o programa No Ar às 11h18 para noticiar a prisão de Michel Temer e as buscas por Moreira Franco, que até aquele momento ainda não havia sido localizado. Ao lado de Otaviano Costa, a jornalista parecia ainda entender o tamanho da notícia que informava ao ouvintes. Perguntada sobre qual o motivo da prisão do ex-presidente, ela não soube responder, dizendo apenas que voltaria ao longo da programação com maiores informações. Coube a Otaviano repassar a notícia, finalizando de que seria um fato “muito barulhento” ao longo do dia.
Rádio BandNews FM – Com informações confirmadas pela Polícia Federal, o jornalista Pablo Fernandez noticia na BandNews FM, às 11h21, que foi decretada a prisão de Temer e Moreira Franco por inquéritos relacionados na Operação Lava Jato do Rio de Janeiro, sem detalhar qual. Ele lembra que, com a saída da presidência, Temer perdeu foro privilegiado e as ações saíram do STF para serem investigadas pela justiça comum. Interrompendo uma entrevista sobre a reforma da Previdência para os militares, a jornalista Carla Bigatto volta à programação às 11h24 com novas atualizações. Ela relembra que Michel Temer foi flagrado em gravações de conversas com indiciados na mesma operação, em referência ao famoso áudio com os executivos da JBS, divulgados em 2017, pouco depois de completar 1 ano na presidência.
Rádio Jovem Pan – Falando sobre o ataque terrorista contra mesquitas na Nova Zelândia, o Morning Show abriu espaço para a notícia da prisão de Temer às 11h21 através do jornalista Vinicius Moura. Ele utiliza como fonte o Portal G1, que informa que desde o dia anterior havia esforços da Polícia Federal em rastrear a localização exata do ex-presidente e de seu ex-ministro, Moreira Franco. A operação estava prevista para acontecer, como de praxe, nas primeiras horas da manhã, mas foi postergada. Às 11h25, após o intervalo, o programa volta com novas atualizações, informando – erroneamente* – que o pedido de prisão de Temer foi baseado em delação de Lúcio Funaro, investigado como operador de políticos do MDB, preso pela mesma Lava Jato em junho de 2016, e que as investigações tratavam da Rodrimar, no inquérito do Porto de Santos. O programa lembra ainda que Moreira Franco, que também é alvo da operação, é sogro do atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.
Rádio Bandeirantes – A notícia da prisão de Michel Temer chegou aos ouvintes da Bandeirantes às 11h22, quando o âncora do programa 90 Minutos, Luiz Megale, chama o jornalista e chefe de redação da emissora, Christiano Panvechi. Ele repassa as mesmas informações iniciais que todos os veículos de imprensa tinham até o momento e que a operação estava prevista para acontecer, como normalmente, nas primeiras horas da manhã, mas fora adiada. Diante da notícia surpreendente, Megale chama a atenção para o fato. “Olha, se você está dirigindo, distraído, ou está lavando louça, ou está se preparando para se arrumar e está ouvindo o rádio lá no fundo, não prestando muito atenção, é isso mesmo que você acaba de ouvir. O ex-presidente Michel Temer acaba de ser preso”, disse. Ele lembra ainda todos os inquéritos que tramitam contra Temer. A Bandeirantes é a única, até então, que informa que a prisão do ex-presidente se baseia em delação feita por José Antunes Sobrinho, dono da Engevix, que teria pago propina a pedido do coronel João Baptista Lima Filho e de Moreira Franco, ambos com conhecimento de Temer. A empresa fechou contrato para projetos na usina de Angra 3.
Rádio CBN – Mais uma vez em horário local, a CBN interrompe a programação formando rede às 11h26. Com nota lida pela jornalista Fabíola Cidral, a rádio informa a prisão de Temer aos ouvintes com a participação do colunista Kennedy Alencar, que apurou a informação com o próprio ex-presidente. “Eu telefonei para o presidente Michel Temer, ele atendeu diretamente. Eu perguntei o que é que estava acontecendo e ele disse que estava na companhia de policiais federais. Eu perguntei que tipo de mandado era e ele disse que era um mandado de prisão preventiva do juiz Marcelo Bretas e que estava indo para o Aeroporto de Guarulhos. Depois, ele disse que não podia falar mais, mas ele próprio me confirmou que era um mandado de prisão do juiz Marcelo Bretas, do Rio de Janeiro, mandado de prisão preventiva”, relata. Kennedy diz que Temer classificou sua prisão como “uma barbaridade”. A CBN é a única a informar, até o momento, que se tratava de uma prisão preventiva e que Temer se dirigia ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, para que pudesse ser levado até o Rio de Janeiro. A jornalista Bianca Santos ressalta em seguida que a PF ainda cumpre mandado de prisão contra o ex-ministro Moreira Franco, de Minas e Energia. Ela informa, com base em notícia divulgada pelo jornalista Paulo Renato Soares, da TV Globo, que os policiais tentavam desde o dia anterior confirmar a localização de Michel Temer e que se tratava de uma prisão baseada em delação de Lúcio Funaro*, acusado de ser operador do MDB. O jornalista Kennedy Alencar diz que desde a saída do governo, havia o temor de que o ex-presidente fosse alvo de um mandado de prisão devido às investigações. Ele lembra também que em uma entrevista recente, Temer disse que não se preocupava com uma eventual prisão, pois não haveria motivos para isso.
A prisão do ex-presidente Michel Temer foi decretada pelo juiz Marcelo Bretas, da Lava Jato no Rio de Janeiro, com base em delação do presidente da Engevix, José Antunes Sobrinho, sobre projetos na usina nuclear de Angra 3. O Ministério Público Federal diz que a empresa pagou propina ao grupo de Temer e que uma obra em imóvel da filha do ex-presidente foi usada para disfarçar a propina.
Por Thiago Cipriano em 22/03/2019
As edições desta sexta-feira dos principais jornais do país repercutiram a prisão preventiva do ex-presidente Michel Temer, ocorrida no final da manhã de ontem (21), a pedido da Lava Jato do Rio de Janeiro. Também foram detidos o ex-ministro e ex-governador do Rio, Moreira Franco, e o coronel João Baptista Lima Filho, amigo pessoal de Temer.
As edições abordam o aspecto simbólico do segundo ex-chefe da nação ser preso em menos de 1 ano. Um frame do vídeo que mostra a condução para a prisão, gravado por um dos policiais, é a foto em destaque da maioria das capas.
Outros jornais abordam a prisão de Michel Temer falando sobre a principal acusação: a movimentação de propina de mais de 1,8 bilhão. Em Zora Hora, de Porto Alegre, o destaque é sobre a legalidade da medida e as cifras movimentadas pelo grupo político do ex-presidente. Os colunistas do jornal abordam as várias faces da prisão de Temer. Rosane de Oliveira e Carolina Bahia falam sobre a volta da Operação Lava Jato aos holofotes, Marta Sfredo fala sobre a reação do mercado financeiro, que teme atraso na reforma da Previdência, e David Coimbra diz que o fato “mostra um novo Brasil”.
O jornal A Tarde, de Salvador, destaca a foto de Temer sendo conduzido por agentes nos corredores da Polícia Federal no Rio e diz que o coronel Lima tentou esconder celulares após a chegada dos policiais.
No Metro, em capa especial, relaciona duas falas do ex-presidente. A primeira, sobre os receios de uma prisão, do dia 7 de maio de 2018: “Não temo, não [ser preso]. Seria uma indignidade”. A segunda, após receber voz de prisão, conforme relato do jornalista Kennedy Alencar, que falou com Temer momentos depois da chegada da PF. “É uma barbaridade”. O jornal destaca ainda que a prisão derrubou o Ibovespa e fez o dólar subir.
Outros jornais falam da prisão com analogias e manchetes de destaque, como o NH, de Novo Hamburgo (“A vez de Temer”), o Jornal do Commercio, de Recife (“Temer está preso”) e o Super Notícia, de Belo Horizonte (“Dentro Temer”), em referência ao “Fora Temer”, que foi o principal grito de manifestação contra o seu governo.
Já o Extra, do Rio de Janeiro, em ilustração, lembra outras prisões importantes da política carioca e nacional. Sob a manchete “Mais dois no álbum de figurões”, o jornal coloca lado a lado, em um álbum de figurinhas, os ex-governadores Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão e Moreira Franco, o ex-deputado federal e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o ex-presidente Lula, que na imagem é tratado, junto com Temer, como “figurinha dourada”, em referência ao cargo que ocuparam.